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Casa Flexível

A ideia para esta peça começou a ganhar forma logo desde o início do confinamento social devido à pandemia provocada pelo vírus Covid-19. Por defeito de formação a minha escolha visual inclina-se, geralmente, para a representação espacial no que ao desenho rotineiro diz respeito, e dadas as circunstâncias actuais o espaço mais presente dos meus dias passou a ser o interior da minha casa.

Acredito que a representação espacial dos lugares reais é composta não só pela evidência das características do objecto/espaço representado, mas também pela sugestão do seu contexto, normalmente, não tão evidente. Este contexto pode ser obtido nas razões pelas quais se encontram juntos determinados objectos, ou nas razões das acções nas cenas desenhadas. Este trabalho pretende focar-se no desenho do conjunto de cenas, ou acções, que tiveram lugar no mesmo espaço -uma sala de um apartamento -durante o período de confinamento, por forma a fazer uma representação do contexto social actual e global. Que seja o contacto entre a minha sala e o mundo.

De modo a enaltecer o uso intensificado do espaço doméstico que, de uma forma geral, fomos todos obrigados a fazer, propõe-se aqui destacar o desenho dos usos que pessoas que utilizaram, e utilizam este espaço, fizeram neste período. Para tal, é escolhido o desenho de linha que, pela transparência da forma, permite fazer uma sobreposição de objectos sem perder o sentido do objecto mais sobreposto. O objectivo desta sobreposição tem que ver com a vontade de configurar numa única imagem, os usos do espaço que aconteceram ao longo de vários dias.

Este é um trabalho que já teve o seu início em experiências desta representação dos usos domésticos, para uma reflexão sobre a arquitectura dos espaços interiores de nossas casas, de um modo geral, que deu azo à publicação de um artigo com o título “Vivo a minha casa ao limite“. Com o suporte de um caderno foi elaborado o desenho do espaço da casa mais usado – a sala – e sobre este foram desenhadas pessoas a desempenhar determinadas tarefas rotineiras e necessárias.
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O que se pretendeu fazer agora, na segunda fase deste percurso, foi uma peça só, um desenho com a dimensão de 60 x 120 cm, cuja forma se caracteriza por ser uma perspectiva esférica a 360º da já referida sala, por um lado, para se conseguir obter uma imagem completa de todos os cantos do espaço e assim incluir todos os usos realizados, mas por outro lado, para apontar já uma outra forma de experiência deste desenho colocando-o num meio de visualização interactiva tipo “VR” (virtual reality) com acesso online, a partir do botão no topo deste texto. Dados os constrangimentos sociais e económicos que esta pandemia provocou a resposta mais recorrente para contornar o problema tem sido a virtualização das experiências, sejam elas o contacto humano, os serviços ou transacções… Assim, pretende-se que este trabalho seja um apontamento desenhado de uma experimentação colectiva que, perante a adversidade pandémica, sugere a tecnologia virtual como um hipotético caminho relacional a seguir.